sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Naruto: Um fenômeno de massa!

Naruto: Um fenômeno de massa!

Naruto chega aos poucos oficialmente ao Brasil, como uma febre com potencial de repetir o sucesso de Cavaleiros do Zodíaco no país ? e, a partir de sua chegada, nada mais será o mesmo. Mas como ele surgiu realmente? E para onde vai daqui em diante?

Por: Uchiha Pammy.

        O que é um fenômeno de massa? É difícil resumir em poucas linhas a pergunta que já gerou inúmeros livros, freqüentemente um contradizendo o outro. Freud, em 1921, ao estudar a facilidade de difusão de estados emocionais entre grupos de pessoas nesses mesmos fenômenos de massa, cunhou o termo "contágio" ? e realmente essa é uma excelente definição. Ao vermos o símbolo da Vila da Folha, sabemos exatamente do que se trata. É Naruto, é Sakura, é Sasuke, é Hokage, é tudo o que, infalivelmente, associamos ao universo de um personagem.
        E se espalhou como um raio. O card-game de Naruto, nos Estados Unidos, esgotou suas tiragens em pedidos antecipados. A versão sem cortes da série, lançada em DVD nos Estados Unidos, chegou ao topo das vendagens locais de animação, amparada por uma campanha certeira de televisão da Viz Media (empresa que é parte do grupo ShoPro, formado por uma joint-venture entre as empresas japonesas Shueisha e Shogakukan). Mesmo o estilo street dos personagens acabou invadindo o caminho da moda, através da cadeia de lojas Hot Topic, que infesta os shopping centers americanos ? e, cá entre nós, vários dos acessórios da série têm estilo o suficiente para fazer parte do guarda-roupa de um adolescente sem que ele pareça estar pronto para fazer cosplay em um evento.
        Antes mesmo de chegar ao Brasil, ele já angariou uma quantidade imensa de fãs, a maior comunidade de Naruto em português ? e são inúmeras ? alcançava quase 50 mil participantes. Quadrinhos, animação, roupas, brinquedos, trilha sonora ? todo um potencial multimídia que sempre foi explorado à máxima potência nos produtos de sucesso japoneses agora parece se realizar mundo afora, com uma força intensa.
        Naruto é, sim, fenômeno de massa.

As Raízes do Produto
        Os modernos quadrinhos de Ninja têm sua raiz nos trabalhos de Sampei Shirato, que definiu o gênero nos anos 60, com obras como Ninja Bugeichô, que seria adaptado para cinema pelo mesmo Nagisa Oshima de obras como "Tabu" ? no original, Gohatto ? e "O Império dos Sentidos", "A Lenda de Kamui" (Kamui-Den), e, claro, o mais juvenil Sarutobe Sasuke, a quem Masashi Kishimoto prestou homenagens até óbvias dentro de sua principal série. Leitor assíduo da trinca dos formadores da sociologia (Marx, Durkheim e Weber), Shirato decidiu estabelecer um princípio de desenvolvimento dos personagens baseado no conceito marxista da dialética ? ou seja, do crescimento via confronto de idéias, que acaba por levar a novas idéias. Explicando melhor:

1 ? Temos um fato social (Tese)
2 ? Temos os problemas gerados por esse fato social
3 ? O questionamento a esses problemas gera sua antítese
4 ? Do confronto entre tese e antítese nasce a síntese ? que, na verdade, é uma nova tese, com elementos conseqüentes desse embate
5 ? Sendo uma nova tese, ele vai gerar seus próprios problemas ? desses problemas, vai surgir uma nova antítese

        Esse é um processo que não acaba nunca, e os personagens de Shirato eram menos personagens do que representações de seu papel social, onde cada personagem vivia um arquétipo dentro dessa roda interminável. Como toda inovação radical dentro da indústria cultural tende a ser diluída e sintetizada para padrões médios, não é difícil entender a marca do DNA de Shirato na famosa "Estrutura de Crescimento do Shonen", definida por Ikki Kajiwara em seus quadrinhos de esportes e difundida em massa para outros gêneros durante os anos 80, onde um personagem tem que seguir um fluxo similar de confrontos para marcar as etapas de crescimento. A cada batalha, o personagem não é mais o mesmo, por um mínimo que seja.
        De qualquer forma, no caso específico dos quadrinhos de ninjas, Shirato ofereceu uma perspectiva mais histórica ao gênero ? antes, os ninjas dos quadrinhos eram mais próximos ao terreno das lendas, mais folclóricos e mágicos. Diluído em padrões médios, o gênero se tornou um hit durante os anos 60 e 70, nas mãos de diversos autores. No entanto, nos mesmos anos 80, em que a estrutura shonen alcançou a sua forma definitiva, o gênero que lhe serviu de celeiro se esgotou graças à saturação. No Even a Monkey can Draw Manga, de Koji Aihara e Kentaro Takekuma, os autores declaram que na verdade o gênero ninja não desapareceu ? seus clichês apenas se reciclaram em outro gênero, o "Mangá Paranormal", imensamente popular durante os anos 80, a ponto de dois dos seus expoentes mais conhecidos no Ocidente terem aportado em nossas praias no início dos anos 90: "Akira", de Katsuhiro Otomo, cujas tiragens esgotavam em dias nas nossas bancas e cujo longa-metragem chegou a ser exibido em nossos cinemas, e "Mai ? A Garota Sensitiva", um material de padrões médios em termos japoneses, que não passou do terceiro volume na sua terra de origem, mas que foi muito popular no Ocidente.
        Em todo caso, essa observação fazia sentido: muito da aura de "fantásticos" dos quadrinhos ninjas, onde os personagens faziam feitos absurdos, acabou por ser absorvida por outros gêneros ? e, no fim das contas, o gênero ? sob uma pecha injusta de "velho" ? entrou mesmo em ostracismo (salvo exceções esporádicas como a divertida série shonen Flame of Recca, que é mera herdeira natural de YuYu Hakushô), do qual só sairia com o sucesso triunfante de Naruto, que trouxe os ninjas de volta em grande estilo.
        Não que essa fosse sua intenção inicial.

Exorcizando Fantasmas
        A primeira aparição de Naruto, na Shonen Jump, não foi uma história de ninjas. Quem leu o "Manga-ka", de Akira Toriyama, publicado por aqui pela Conrad Editora, reparou que o foco no personagem leva os autores a planejarem o mesmo antes de pensarem no cenário ? ou seja, construir o personagem de forma que, independente do background em que ele esteja interagindo, ele seja o mesmo ? e funcione igualmente. É estranho à primeira vista e, a bem da verdade, nem sempre isso parece ser realmente feito ? One Piece tem jeito de ter nascido da vontade de Eichiro Oda de fazer uma história de piratas, o resto foi conseqüência. Em Samurai X, podemos ver nas três versões do personagem que a única variação que houve foi de elenco e detalhes específicos, mas, em todas elas, o personagem é sempre o mesmo: um sobrevivente dos piores momentos da Era Meiji. Kenshin Himura não pode ser dissociado do cenário onde foi criado.
        Mas em Naruto parece ter sido isso o que aconteceu. Em sua primeira versão, o personagem de Masashi Kishimoto era essencialmente o mesmo: um garoto peste com seus truques de transformação em mulher e tudo mais ? e que começa a história sem amigos. Mas não havia o contexto ninja, e Naruto não tinha poderes de multiplicação. Ele tinha, na verdade, poderes transmorfos que funcionavam bem, e havia a sugestão claríssima de que sua verdadeira forma era a de raposa ? ele era um demônio, não um garoto que aprisiona um demônio em seu corpo ? e o mundo em que ele habitava era meramente um mundo onde humanos e demônios viviam em paz entre si, após anos de confrontos.
        Os óculos de piloto que apareceram no primeiro capítulo oficial do mangá, o que conhecemos ? e que foram substituídos já no segundo capítulo pela clássica bandana da vila da folha, aparecem nessa versão original ? fazem sentido absoluto, visto que Naruto habitava um cenário urbano, mais parecido com uma grande cidade japonesa, e o percorria com... uma lambreta.
        Definitivamente, não era a mesma coisa, embora muitos elementos desse proto-Naruto tenham permanecido na versão final. Em todas elas permanecem pontos comuns: a figura da raposa de nove caudas, um certo desajustamento em relação ao ambiente ? que talvez seja um reflexo de sua própria infância. Segundo o colaborador da revista, Minami Keizi, em entrevista para o site brasileiro "Senhor do Caos", "O pensamento das pessoas dessa e das épocas anteriores (à Era Meiji) naquele país, a respeito de gêmeos, era o pior possível. Para eles, os seres humanos tinham um filho de cada vez. Ter dois ou mais filhos num mesmo parto, era coisa de bicho, de animal. Podia até acontecer na classe baixíssima dos etá (párias), mas nunca de um samurai ou descendente. Aliás, essa era a condição divina e privilegiada do ser humano: nascer um de cada vez. Tanto que no folclore ou literatura japonesa não existe nenhum caso de gêmeos; se nascesse, matavam um e enterravam para ninguém ficar sabendo. Quando minha mãe teve gêmeos, minha avó ficou apavorada. Para ela, era a coisa mais vergonhosa do mundo. Um castigo divino. Então, tratou de esconder o fato e só mostrava um dos bebês quando as pessoas vinham visitar minha mãe no pós-parto."
        Obviamente, as coisas não são mais assim, mas a questão é que um fator cultural tão forte não é debelado da noite para o dia, e o fato de que mesmo entre gêmeos há a classificação de filho mais velho e filho mais novo mostra que essa foi uma forma de contornar essa mentalidade, não de negá-la ? e que, por tabela, ela nunca foi apagada de todo, mesmo que nos dias de hoje ninguém vá ter um comportamento inaceitável desses. As circunstâncias do nascimento dos irmãos Kishimoto também ajudam a reforçar essa idéia ? ambos vieram ao mundo prematuramente no ano de 1974, precisando ser colocados em uma incubadora para sobreviver.
        Como se não bastasse esse aparente sinal ruim para assombrar seus primeiros anos, o criador do personagem não era, a bem da verdade, o mais esperto dos alunos de sua classe. Tendo chances de entrar numa faculdade truncadas por conta de seu desempenho como aluno ? assim como o personagem que lhe deu fama, ele era um desastre na sala de aula (formou-se em 1990 como o 38º aluno numa turma de 39) ? sua única chance era apostar no que sabia fazer: desenhar, algo que fazia desde a infância como hobby, ao lado de seu irmão gêmeo, Seishi. Um hobby que ele custou a aceitar como vocação, por saber que atletas têm melhores chances com as meninas do que os desenhistas ? jogou beisebol por bastante tempo na escola, até entender que o seu objetivo era desenhar. Gradualmente, foi deixando os esportes para trás. Três anos depois de sua formatura, entrou em uma escola de arte.
        Circunstâncias complicadas de nascimento, e infância possivelmente cheia de dores de cabeça, desempenho escolar medíocre, demora a se resolver na vida... Lembra alguém?
        Os irmãos Kishimoto foram leitores de mangás em uma época particularmente áurea dos quadrinhos japoneses, e Masashi, em especial, se apaixonou particularmente por dois trabalhos ? Akira, de Katsuhiro Otomo, publicado na Young Jump; e as duas obras principais de Akira Toriyama para a Weekly Shonen Jump, Dr. Slump e, claro, Dragon Ball. E em um desses movimentos dramáticos que poderiam ser parte de um mangá shonen sobre um garoto que decide ser desenhista, ele submeteu seu primeiro mangá, Karakuri, para a Shueisha. Só lhe restava cruzar os dedos.
        Karakuri lhe valeu o prêmio ?Hop Step Award? da Shueisha, um dos muitos concursos da indústria japonesa dos quadrinhos, voltado a artistas novatos pela excelência em seu trabalho. Kishimoto contou, em uma entrevista, que como não tinha sido avisado pela editora, acabou pensando que havia fracassado ? até que comprou a revista e descobriu, folheando em plena rua, que foi o grande vencedor. Ao chegar em casa, recebeu imediatamente um telefonema de um homem chamado Yagagi, lhe perguntando se estava pronto para trabalhar como um profissional; e que, tendo ouvido a confirmação, anunciou que seria o seu editor dali para frente, desejando-lhe sucesso em sua nova empreitada. Era o ano de 1995, e as portas da editora lhe foram abertas naquele exato momento.
        Alguns meses depois, uma das revistas da linha Jump ? a Akamaru Jump da Shueisha, para ser mais exato, veiculou seu piloto, com excelente repercussão. O bastante para que um novo contrato fosse assinado, e ele pudesse veicular um novo piloto na mais vendida revista do mundo ? a Shonen Jump.

O Sucesso nos Tempos de Transição
        Na época em que Naruto começou sua publicação, a revista vivia sob a sombra dos tempos áureos que ainda eram recentes demais para ser esquecidos. Os anos 80 foram uma época de ascensão total para a revista, onde, numa mesma antologia, poderiam ser encontrados megassucessos como City Hunter, Dragon Ball, YuYu Hakushô, Fist of North Star, Cavaleiros do Zodíaco... ao MESMO tempo ? ou seja, em um país em que uma antologia pode ser lida por alguém que queira acompanhar uma ou duas séries, uma antologia recheada de campeões de popularidade e vendagens em suas versões compiladas é no mínimo um sucesso inimaginável. Esse processo culminou no recorde absoluto de seis milhões e duzentos mil exemplares de tiragem em 1991...
        ... que jamais viria a ser alcançado novamente. A Jump perderia uma quantidade assustadora de leitores com o final de Dragon Ball Z. Da noite para o dia, sua tiragem despencou praticamente para a metade. Nesse sentido, o sucesso de One Piece foi fundamental para manter a Shonen Jump como a mais vendida revista japonesa. E no esforço de tentar forçar a revista a retornar seus antigos números, foram cometidos excessos ? protagonistas jovens demais, antes apenas uma preferência, pareceram virar a norma do momento. Mesmo títulos que já tinham andamento e eram protagonizados por personagens mais velhos pareceram ser afetados pelo andamento da situação ? não é difícil enxergar no crescimento que o personagem Yahiko teve durante a reta final de Samurai X um sintoma dessa nova orientação editorial. No momento em que Kenshin entra em depressão por uma suposta morte de Kaoru, podem confirmar: Yahiko carrega a história nas costas. Ironicamente, o melhor momento dessa fase da série não coube ao garoto que quer herdar o manto de Kenshin; foi a história solo de Sanosuke, praticamente um faroeste com punhos no lugar de tiros, e que deu um sinal do que teria sido verdadeiramente Gun Blaze West, a série do autor Nobuhiro Watsuki que sucederia Samurai X, mas que foi tão desfigurada pela interferência editorial que acabou fracassando ferozmente. O próprio Samurai X concluía abrindo portas para uma possível série solo de Yahiko, que acabou gerando apenas um one-shot (A Sakabatou de Yahiko, publicada pela JBC).
        Naruto estrearia definitivamente na 43ª edição da Jump do ano de 1999. E encontrou como celeiro uma Jump sob a sombra de One Piece. E por incrível que pareça, foi beneficiado por isso. Ao lado da série principal da revista e de outros sucessos, era uma prova de que a norma editorial do momento era funcional (embora tudo isso tenha sido virado do avesso com o imenso sucesso de Death Note).
        A carreira vencedora de Naruto no Japão continua: o personagem é uma verdadeira megafranquia por si só, e tomaria a revista inteira falar de todos os produtos que a série gerou. Seu sucesso se espalha por jogos, como as séries Naruto Gekitou Ninja Taisen, Naruto RPG, Naruto GBA SP e Naruto Saikyou Ninja Daikesshu, que já teve continuação; brinquedos intermináveis; DVDs de animê; romances ambientados no cenário; longas-metragens que fazem sucesso nos cinemas... a lista é imensa. Mesmo a segunda fase de Naruto, passada dois anos e meio, e que parece ter perdido fãs em relação à primeira, não dá mostras arranhar muito o desempenho da marca.
        Mas um outro fator conta para a longa vida de Naruto, a menos que Kishimoto puxe o plugue da história, e, em entrevistas, ele já assume que tem idéias muito claras para esse fim ? embora dependa de eventos que ele ainda quer que aconteçam na série. Aparentemente, ele não está enrolando ? quer contar a história que quer contar. E, antes que ela termine, ela já estará se espalhando pelo mundo. Sem muita perspectiva de acabar, pelo menos por ora.

A Curva Descendente
        Enquanto Naruto chega ao Brasil, na escalada de sua fama no mercado exterior, onde não pára de se alastrar, o mangá no Japão finalmente começou a perder fãs e não ter mais o mesmo eleitorado que tinha antes ? embora ele permaneça um imenso sucesso, não custa lembrar: ele ainda é um título de altas vendagens e imensa popularidade, e, com certeza, sua cabeça não está em risco dentro da Jump. Talvez chegue mesmo a virar a mesa e voltar a reconquistar leitores sob as novas regras que se impôs. Mas, por ora, a nova fase de Naruto, que muitas pessoas chamam de "Naruto 2", pode ser considerada sob observação. Para fins práticos, vamos chamá-lo assim.
        É complicado falar sobre Naruto 2 sem cometer spoilers. Basta dizer que o ponto de partida dramático da nova fase é o mesmo elemento deixado em aberto ao final da fase anterior, seguido de um lapso de dois anos e meio. O traço na nova série é mais limpo e elegante, de linhas claras e uso equilibrado do preto e do branco. Esteticamente, talvez seja até um traço mais bonito e atraente. Mas é um traço mais cerebral e menos explosivo do que o estilo que celebrizou a série. E, definitivamente, menos juvenil.
        Não foi apenas o traço que mudou. Mesmo que você não leia japonês, uma olhada em um pacote de exemplares da Jump, seguidos, revela que Naruto se tornou uma série mais "séria", com personagens que parecem confabular e confabular e confabular. Em entrevistas, o autor confessou ser fã dos filmes de ficção histórica conhecidos como "chabbara eiga", que é o cinema clássico de aventura com samurais. Nesse sentido, Naruto 2 gradualmente se aproxima mais desse cinema, com uma fórmula aparentemente mais conservadora. Talvez esse rumo aponte para os rumos da carreira de Kishimoto após o fim da série.
        E se fôssemos pensar em termos potterianos, realmente seria meio como comparar "Harry Potter e a Câmara Secreta" com "Harry Potter e o Enigma do Príncipe". O próprio Kishimoto disse que pretendia que houvesse mais romance nessa fase, e os personagens definitivamente amadureceram em relação ao que eram. Faz sentido: agora, os personagens têm 15 anos e não são mais as crianças que eram. Só que, no caso de Naruto, esse período de dois anos e meio não foi acompanhado gradualmente, e ao invés de acompanhar esse envelhecimento passo a passo, tivemos um salto de tempo que não preparou os leitores para essas mudanças. Independentemente disso, a mudança não deixa de ter seu custo.
        Naruto perdeu muito do clima de alto-astral que era um dos elementos de seu sucesso. Os personagens estão com visuais mais interessantes em sua maioria, e queremos não só ver o quanto eles mudaram, mas também saber como será o seu destino... só que muitas pessoas sentem falta de tudo do jeito que era.

Matando tempo
        Pra piorar, o desenho animado sofreu um baque: alcançou a cronologia do mangá. Para continuar sendo produzido toda semana, foi criada uma fase filler, que tem sido muito mal recebida por onde quer que ela passe. Um filler é quando você tem que criar uma história nova por si só, que nada tem a ver com o mangá. Às vezes, um desenho tem sorte e cai em mãos habilidosas, e eles compensam essa interrupção com histórias interessantes. Foi o caso de FullMetal Alchemist, que criou uma divergência total com os rumos do mangá, mas que criou uma nova história com ramificações muito bem pensadas e que não tem gerado muitas críticas, exceto pelos puristas do mangá ? há a percepção, hoje em dia, de que os dois FMA valem a pena ser acompanhados como histórias diferentes.
        Mas, de modo geral, os fillers são sinônimos de histórias mal pensadas e que muitas vezes descaracterizam os personagens. Samurai X sofreu particularmente com os fillers: a história, apesar de tomar liberdades imensas com os personagens que existiram na vida real (Saitou Hajime é o caso mais óbvio), sempre teve uma âncora histórica muito bem pensada (como o assassinato do primeiro ministro Ookubo pelos membros da Jupongatana). Quando o animê alcançou a cronologia do mangá, eles fizeram fillers para matar o tempo até que pudessem produzir os episódios correspondentes ao que acontecia na Jump naquele momento. Foi um desastre. A pesquisa histórica foi mandada às favas e, definitivamente, a equipe que fazia o desenho não entendia nada de cristianismo e das religiões ocidentais...
        No caso de Naruto, os fillers, que começaram a partir do episódio 136, foram particularmente custosos à sua imagem ? pelo fato de essa fase, em especial, estar se demorando muito e ainda não ter final previsto: já são três temporadas apenas de episódios tapa-buraco. Sua audiência não é mais a mesma, embora continue alta. Alguns personagens têm sido um pouco descaracterizados e superexpostos, como Hyuuga Hinata, no arco do desenho conhecido como Bikōchū, na sexta temporada; mas o desenho continua vivo, esperando para, finalmente, voltar a se encontrar com a cronologia do mangá.
        Em todo caso, é óbvio que esses fillers ajudaram a aumentar a má-vontade para com a nova fase. Surgiu um sentimento de prevenção, o que mostra que essa mudança, se era necessária, deveria ter sido melhor planejada. Mas isso significa o fim da série, por si só? Nem de longe.

Conquistando o Mundo
        Os números de Naruto mundo afora não podem ser negados. O Brasil pode viver uma mania que alcançará a grande mídia, gerará um sem-número de produtos e licenciamentos, e mostrará mais uma vez o poder comercial do mangá e do animê. E então chegaremos a um ponto, se tudo der certo, que ninguém vai deixar de saber quem são Naruto, Sakura, Sakuke, Kakashi, Rock Lee e companhia. Alguns fãs se sentirão revoltados porque deixarão de ser "os donos" dos personagens. Serão forçados a conviver com o fato de que não serão apenas aqueles que baixam animês pela internet, preferem legendas, mesmo as mal escritas, a qualquer tipo de dublagem, mesmo que seja a melhor do mundo, que terão acesso ao personagem. As crianças decorarão os golpes em português; Naruto será de domínio público, da mesma forma que no Japão, onde ele não é feito para um núcleo pequeno de fãs, mas para a grande massa de consumidores.
        Que seja assim, e que os incomodados arrumem outro animê pra gostar caso se sintam tão furiosos com essa perspectiva. Mangás e animês foram feitos para serem fenômenos de massa.
        E é isso que Naruto é: um fenômeno de massa. Para o que der e vier.

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